Brasileiros estão consumindo muitos alimentos com excesso de açúcar, sal e gordura.
Não é de hoje que se aponta açúcar, sal e gordura em excesso como os vilões de uma alimentação inadequada, mas uma pesquisa do Ministério da Saúde acaba de concluir que a situação vem se agravando. O estudo revelou uma queda no consumo de alimentos saudáveis e a substituição por produtos industrializados e refeições prontas.
Não é de hoje que se aponta açúcar, sal e gordura em excesso como os vilões de uma alimentação inadequada, mas uma pesquisa do Ministério da Saúde acaba de concluir que a situação vem se agravando. O estudo revelou uma queda no consumo de alimentos saudáveis e a substituição por produtos industrializados e refeições prontas.
— O que a população desconhece é que esses alimentos geralmente contêm grande quantidade de sódio e gordura saturada, que, se consumidos com frequência, podem gerar sérios problemas de saúde — adverte a presidenta da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), Márcia Fidelix.
Para alertar a população sobre esses riscos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma série de novas regras para a publicidade e a promoção de alimentos e bebidas com baixo teor nutricional e elevadas quantidades de sódio, açúcar e gordura saturada ou trans.
O limite dado pela agência para a quantidade de açúcar em alimentos sólidos é de 15g a cada 100g de produto. Um pacote de biscoito recheado, por exemplo, chega a conter 60g de açúcar em 100g de biscoitos, mais de quatro vezes superior ao limite. Quanto à gordura saturada, o valor estabelecido é de 5g a cada 100g. E o limite para a quantidade de sódio é de 0,4g para cada 100g de produto. As empresas terão 180 dias para se adequar às novas regras.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 45% da população brasileira está acima do peso — e 20% dos adultos já são considerados obesos.
— Excesso de peso e má alimentação são responsáveis por um grupo chamado de macrodoenças, que estão ligadas à principal causa de óbitos no país, por desencadearem problemas cardiovasculares — explica João Eduardo Salles, representante do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Esses males são a hipertensão, a obesidade e a hipercolesterolemia (colesterol alto).
A iniciativa da Anvisa visa proteger os consumidores da omissão de informações e da indução ao consumo exagerado.
— Os alertas nas propagandas vão possibilitar a reflexão do consumidor, para que ocorra uma mudança de comportamento, desestimulando os excessos. Essa medida reflete a capacidade e o dever do Estado de proteger a população — argumenta a gerente de monitoramento e fiscalização de propaganda da Anvisa, Maria José Delgado.
A informação nutricional é obrigatória nos rótulos dos alimentos, mas é importante que o consumidor saiba como consultá-la.
Crianças
Na última assembleia da OMS, realizada em Genebra neste ano, a organização recomendou que os países adotassem medidas para reduzir o impacto da propaganda de alimentos pouco nutritivos sobre as crianças, já que as escolhas delas influenciam em até 80% as compras feitas pela família. Para a pediatra Maria Cristina Duarte, mestre em saúde da mulher e da criança pela Fundação Oswaldo Cruz, a regulamentação da Anvisa foi um bom começo, mas ainda há muito para ser melhorado.
— As crianças são estimuladas por sons, cores e imagens, são tentadas pelas logomarcas e seduzidas pelos presentes oferecidos com os alimentos — explica.
Uma pesquisa realizada pelo Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, com crianças entre 3 e 11 anos, destacou que guloseimas são mais desejadas que brinquedos. Dentre elas, os biscoitos recheados são os mais consumidos, seguidos por refrigerantes, salgadinhos, batatas fritas e pizzas.
— São calorias vazias, e o resultado é preocupante, já que esses alimentos podem gerar nas crianças um problema chamado síndrome metabólica — alerta.
A especialista conta que essa síndrome causa elevações dos níveis de lipídios e colesterol, alterações na glicemia e na insulina e pode levar à obesidade e à hipertensão arterial.
— Antes, pensava-se que isso ocorria apenas em adultos, mas hoje já sabemos que as crianças também podem desenvolver esse problema — afirma.
O Instituto Alana defende uma resolução específica para o público infantil.
— Apesar de ser uma medida inovadora, um avanço para a proteção da sociedade, a Anvisa perdeu a oportunidade de ir além — lamenta a coordenadora-geral do projeto, Isabella Henriques.
Um capítulo que regulamentava a vinculação de brindes e outros atrativos a alimentos que, em excesso, podem ser nocivos à saúde das crianças e definia horários apropriados para a divulgação desses produtos não foi incluído na resolução da Anvisa.
— A maior parte da publicidade desses alimentos é voltada para o público infantil, que deveria ser tratado de forma especial, por ser formado por consumidores hipervulneráveis — completa Isabella.
Grupo letal
São doenças que afetam o sistema circulatório, como o coração, veias, artérias e vasos capilares. As doenças mais comuns são o enfarte do miocárdio e o AVC (acidente vascular cerebral). Esse grupo de doenças é responsável pelo maior número de mortes no Brasil.
Nutrição mínima
Estão presentes em alimentos muito calóricos, mas sem benefício nutritivo. Contém pouco ou nenhum nutriente essencial, como vitaminas, proteínas e fibras. Batatas fritas, balas, chicletes e biscoitos são exemplos de alimentos com as chamadas calorias vazias.
Fatos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que pelo menos 42 milhões de crianças com menos de 5 anos estarão obesas ou acima do peso até o fim de 2010 — 80% delas moram em países em desenvolvimento, como o Brasil
No Brasil, 30% das crianças estão acima do peso — 15% já são consideradas obesas
Cerca de 50% das campanhas publicitárias veiculadas na TV são direcionadas ao público infantil
Fonte: Correio Braziliense.
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Não é de hoje que se aponta açúcar, sal e gordura em excesso como os vilões de uma alimentação inadequada, mas uma pesquisa do Ministério da Saúde acaba de concluir que a situação vem se agravando. O estudo revelou uma queda no consumo de alimentos saudáveis e a substituição por produtos industrializados e refeições prontas.