A partir de setembro, a técnica começará a ser testada em humanos.
Células-tronco originárias da polpa do dente de leite podem curar deficiências visuais. É o que mostra a pesquisa realizada pela biomédica Bábyla Geraldes Monteiro, do Instituto Butantan. O trabalho avaliou a eficácia da atividade de células-tronco retiradas da parte interna de dentes de leite ao tratar uma lesão na região límbica dos olhos de coelhos.
— É o espaço entre a parte colorida e a parte branca do globo ocular — explica a pesquisadora.
O procedimento adotado busca reconstruir a córnea para, assim, restaurar a visão.
A partir de setembro, a técnica começará a ser testado em humanos, em parceria com o Instituto da Visão da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em um primeiro momento os testes serão aplicados em um grupo de pacientes voluntários que já passaram por cirurgia e não obtiveram resultados satisfatórios, não podem receber enxertos de tecido e não apresentam quadro infeccioso. Os testes devem demorar seis meses e, caso a técnica apresente resultados satisfatórios, poderá ser disponibilizada para a população.
A técnica desenvolvida pela biomédica está descrita na dissertação de mestrado Estudo da Plasticidade das Células tronco de Polpa Dentária: Diferenciação e Caracterização para Células do Epitélio Corneano in vitro e in vivo, apresentada por Bábyla ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia (USP/IPT/Instituto Butantan). O trabalho foi premiado durante o congresso oftalmológico Pan-American Research Day – ARVO Annual Meeting, realizado neste ano em Fort Lauderdale, Flórida.
A pesquisa, feita com coelhos, partia da indução de uma lesão clínica no animal. Essa lesão é perceptível quando, na superfície do olho lesionado, enxerga-se uma marca esbranquiçada. Para tentar curá-la ou atenuá-la, as células da polpa dos dentes foram cultivadas dentro de uma estufa, com um polímero biodegradável que reagia à variação de temperatura. Ao retirar essas células do calor, a temperatura do conjunto diminuía e o polímero se soltava da placa de cultura, com as células-tronco aderidas a ele.
— Assim, era possível transferir essa membrana para o olho lesionado.
Constatou-se que no período de duas a três semanas após o procedimento, a córnea apresentou diminuição do aspecto esbranquiçado que evidenciava a lesão.
— Quando a lesão clínica era mais leve, houve maior melhora. As lesões mais graves apresentaram transparência parcial da córnea — aponta Bábyla. Passados cerca de três meses, a reversão do quadro foi praticamente total nas lesões menos graves.
Sem rejeição
A biomédica enfatiza a magnitude do projeto ao lembrar que essa forma de transplante não apresenta rejeição.
— Pessoas que sofreram lesões na região límbica por trauma, queimaduras térmicas ou químicas ou até as que realizarão um transplante de córnea em que houve rejeição poderiam ser tratadas.
O reconhecimento internacional da pesquisa já conduz Bábyla para a tese de doutorado, que trabalhará o mesmo assunto. Um dos temas abordados será o aperfeiçoamento dos procedimentos de reversão dos casos mais graves.
A pesquisa foi orientada pela bióloga e química Irina Kerkis, do Instituto Butantan, e teve o acompanhamento de oftalmologistas e pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além da equipe do Laboratório de Genética do Instituto Butantan.
Fonte:CLICRBS-BEM-ESTAR